terça-feira, 21 de maio de 2019

DPU no Recife debate os efeitos sociais da criminalização das drogas no país



Um dia antes da 12ª edição da Marcha da Maconha no Recife, a Defensoria Pública da União (DPU) no Recife abriu seu auditório, na tarde de sexta-feira (17), para debater os efeitos sociais da criminalização das drogas no Brasil. Participaram do cine debate o defensor público chefe da unidade, Guilherme Ataíde Jordão; a representante do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco, Ingrid Farias; e o vereador do Recife, Ivan Moraes (PSOL).

“A atuação da DPU no Recife na área criminal é majoritariamente dedicada a defender pessoas presas por drogas, seja por tráfico internacional seja na área militar. E essa última é ainda pior, pois a Lei de Drogas [Lei 11.343/2006] não é aplicada para os militares, eles ainda utilizam uma legislação da época da ditadura [Código Penal Militar – Decreto/Lei 1001/1969], em que independe a quantidade de drogas apreendida. Já cheguei a pegar um caso de apreensão de 0.08 gramas. Era difícil até de identificar pelas fotos anexadas ao processo”, destacou o defensor público federal Guilherme Ataíde Jordão, que antes de ser chefe da unidade atuava na área criminal.

O cine debate teve início com a exibição de uma animação feita pelo núcleo de violência e encarceramento da Plataforma Brasileira de Política de Drogas (BPPD), trazida pela representante do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco, Ingrid Farias. O vídeo tem duração de nove minutos e reflete a frase: “essa guerra nunca foi contra as drogas, sempre foi contra pessoas, determinadas pessoas”. A animação começa com um relato histórico do consumo de drogas no mundo e demonstra como a criminalização de algumas substâncias está diretamente relacionada ao controle de determinadas populações.

Especificamente no Brasil, mostra que a maconha foi criminalizada primeiro no Rio de Janeiro em 1830 e previa a prisão dos usuários, descritos como “escravos e demais pessoas”. Atualmente, as populações negras, pobres e indígenas são as mais atingidas na guerra às drogas da América Latina. Depois do relato histórico, a animação mostra alguns casos reais de pessoas presas com drogas no Brasil, onde negros e pobres são sempre mais prejudicados do que brancos e ricos. O vídeo está disponível nas plataformas digitais da BPPD. “A política de drogas no Brasil não é contra as drogas. É um projeto político racista de encarceramento e genocídio do povo negro, que impede o debate do real uso de drogas”, enfatizou Ingrid Farias após o vídeo.

Ingrid Farias também é a organizadora da Marcha da Maconha no Recife há nove anos. “Amanhã [18] teremos a 12ª Marcha da Maconha no Recife. É um dos poucos atos políticos que acontecem todo ano no Brasil. O usuário de drogas também é um sujeito político e eu demorei muito a entender isso. Estamos num processo de excluir essas pessoas aos olhos da sociedade e isso precisa ser combatido”, disse a militante destacando o projeto de lei complementar que está sendo trabalhado em Brasília para reformular negativamente o Sistema Nacional de Política sobre Drogas. A representante do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco também distribuiu a cartilha “Fique Suave – cartilha de redução de danos e direitos dos usuários de drogas”, que será oficialmente lançada durante a marcha.



Para o vereador Ivan Moraes, a Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) não traz critérios objetivos que diferencie traficante e usuário e não trata do acolhimento das pessoas que fazem uso problemático dessas substâncias. “É fundamental que as políticas sobre drogas saiam do aparelho coercitivo do Estado e parem de ser obrigação de polícia e de prisão. Precisa ser uma política pública de saúde, atenção e assistência. É fundamental que se preserve a liberdade dos corpos das pessoas, que elas possam decidir livremente o que usar, ao mesmo tempo que é imprescindível que as pessoas que fazem uso problemático possam receber o cuidado necessário. É preciso também ter educação desde cedo, as pessoas precisam conhecer o que são essas substâncias para ter o discernimento de usar ou não”, comentou Ivan Moraes.

Segundo o defensor Guilherme Ataíde Jordão, foi um momento enriquecedor de escuta do movimento que pauta a necessidade de uma nova abordagem estatal sobre a questão. “De fato, não podemos continuar repetindo políticas públicas tão sabidamente equivocadas assim. Quando conversamos de perto com o movimento e analisamos a situação, percebemos o quanto precisamos acabar com essa política autoproclamada de ´guerra às drogas´. E quem veio ao debate mostrou o quanto isso é urgente”, finalizou Jordão.

ACAG/MRA
Assessoria de Comunicação Social
Defensoria Pública da União

https://www.dpu.def.br/noticias-pernambuco/157-noticias-pe-slideshow/50631-dpu-no-recife-debate-os-efeitos-sociais-da-criminalizacao-das-drogas-no-pais