quinta-feira, 8 de junho de 2017

Problemas enfrentados por homens trans no Recife são debatidos em reunião


Os setores de Direitos Humanos da Defensoria Pública da União (DPU) no Recife e da Defensoria Pública do Estado de Pernambuco (DPPE) promoveram uma reunião na manhã dessa quarta-feira (7) com dois representantes da Associação de Homens Trans e Transmasculinidade (AHTM), na sede da DPU no Recife, para fazer um levantamento dos problemas enfrentados pelos homens trans na capital pernambucana.

O defensor público estadual Henrique da Fonte Araújo de Souza, chefe do Núcleo de Defesa dos Direitos das Minorias (Nudmin) da DPPE e ex-estagiário da DPU no Recife, destacou que recebeu diversas reclamações de pessoas trans durante um seminário. “As reclamações eram sempre voltadas para o Espaço Trans do Hospital das Clínicas. Como não é de competência do Estado, resolvi oficiar a DPU sobre o assunto”, disse o defensor estadual.

Após o contato da DPPE, o defensor público federal Geraldo Vilar Correia Lima Filho, responsável pelo Ofício Regional de Direitos Humanos no Recife, marcou uma reunião na sede da DPU com o defensor estadual e dois representantes da Associação de Homens Trans e Transmasculinidade, Társio Benício de Assis Gomes e Luiz Carlos Carvalho Bastos.
Entre as dificuldades apresentadas estão a fila de entrada no Espaço Trans que está em aproximadamente dois anos, a dificuldade de marcação de exames no HC para quem já está sendo acompanhado pelo Espaço Trans, a não disponibilização de hormônios considerados importantes por eles, a fila para a cirurgia e a falta de estudos de caso, considerando que o HC é um hospital ligado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

“O HC recebe verba específica para acompanhamento das pessoas trans. Apenas seis hospitais recebem essa verba no Brasil. Até setembro só tinha o HC no Nordeste, depois passou a contar com um hospital na Bahia também”, afirmou Társio Benício, que além de ser presidente da AHTM, também é coordenador do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), representante da Associação Nordestina de Pessoas Trans e Transexuais e representa os homens trans no Comitê Técnico de Saúde Integral da População LGBT da Secretaria de Saúde de Pernambuco.

O Hospital das Clínicas recebeu o credenciamento do Ministério da Saúde para a implantação dos trâmites relativos ao processo transexualizador do Sistema único de Saúde (SUS) em outubro de 2014. Com isso, houve a criação do Espaço de Cuidado e Acolhimento Trans com uma equipe multidisciplinar de áreas como enfermagem, psicologia, psiquiatria, serviço social, ginecologia, endocrinologia, cirurgia plástica, mastologia, entre outras. O atendimento é individualizado e leva em consideração o que cada paciente quer no seu processo de adequação corporal.

Segundo os integrantes do AHTM, hoje são cerca de 80 homens trans sendo acompanhados pelo espaço do HC. “Desses, cinco fizeram cirurgia no próprio HC e outros cinco fizeram fora. Os outros ou estão na fila para cirurgia ou ainda estão na fase de acompanhamento antes da cirurgia, que dura dois anos. Para entrar no espaço também tem uma fila em que o interessado espera uns dois anos”, ressaltou Társio Benício, complementando. “Somos bem tratados pelos diversos profissionais. Um dos maiores problemas agora é que a fila de cirurgia parou de andar. Antes era feita uma cirurgia por mês, mas depois que a médica engravidou a fila parou. Estamos com, pelo menos, dez homens trans aptos para a cirurgia na fila hoje.”

O defensor Geraldo Vilar abriu um procedimento administrativo para apreciar as demandas de forma coletiva. “Vou oficiar o HC pedindo algumas informações sobre o Espaço Trans e pedir uma reunião para avaliar como a DPU pode ajudar. Nos casos individuais, como por exemplo, de pessoas trans que não conseguiram marcar algum exame importante ou não conseguiram a passagem interestadual para fazer o tratamento no HC, precisamos que essas pessoas procurem individualmente a DPU”, finalizou.