segunda-feira, 5 de junho de 2017

Equipe da DPU no Recife visita comunidade quilombola Ilha de Mercês


Seis integrantes da Defensoria Pública da União (DPU) no Recife visitaram a Ilha de Mercês, localizada no município de Ipojuca, nessa quinta-feira (1°). A DPU foi convidada pelos moradores para conhecer de perto os problemas enfrentados. Trata-se de questões que vão de possíveis crimes ambientais a intervenções policiais. A Ilha de Mercês conseguiu a certificação de comunidade remanescente de quilombo pela Fundação Palmares em outubro de 2016.

A equipe da Defensoria, formada pelo defensor público federal Geraldo Vilar Correia Lima Filho, responsável pelo Ofício Regional de Direitos Humanos no Recife, pelas servidoras da Seção de Serviço Social Simone Guerra e Wanessa Gonzaga e estagiários Cleyton Rodrigues, Paolla Barbosa e Raiane Barros, foi recebida pelo líder comunitário Magno Manoel e cerca de dez moradores.

O primeiro contato foi uma roda de conversa para que os locais explicassem o histórico, suas ascendências, território ocupado e os problemas que enfrentam desde a criação do porto de Suape, há cerca de 40 anos, até os dias atuais. “Nossa comunidade tinha mais de 800 famílias. Todos sempre viveram de agricultura e pesca. Nunca tivemos muitos estudos, principalmente décadas atrás. Primeiro chegou uma empresa para fazer a pista, depois chegou o Suape. Começaram a indenizar a população local e alguns focos do grupo foram sendo extintos. Mercês era dividida em várias áreas e hoje só temos quatro delas”, destacou Magno Manoel.

Os moradores citaram diversos problemas que estão tendo com a administração de Suape. Entre eles, o pagamento de pedágio, pois poucas famílias tiveram a liberação do acesso. Além disso, destacaram a falta de empregabilidade nas grandes empresas que se instalaram e a proibição de construírem ou reformarem suas residências, o que provoca desabamentos constantes no local e risco de morte. Também relataram a ocorrência de agressões físicas e verbais sofridas envolvendo os seguranças de Suape e a Polícia Militar e a dificuldade de prestar queixas contra esses atos e ter essas ações investigadas.

Outro ponto foi o impedimento de os habitantes acessarem a única fonte de água que existia e a estruturação de canos por parte da Compesa. Há ainda a dificuldade de uso da terra e do rio, a apropriação de materiais de pesca e subsistência pelos seguranças do Porto e crimes ambientais como o derramamento de óleo e esgoto nos manguezais. Entre outras questões, apontaram a construção de uma pista no meio de um manguezal, impedindo a passagem de canoas, e outra no encontro do rio com o mar, que veta a vazão da maré e prejudica a pescaria na região de mangue.



“Com o fechamento do rio há alguns anos, a água do mangue ficou salobra. Antes trabalhávamos com ostra e camarão nos mangues daqui. A água era cristalina, pois esse rio não passava por nenhuma cidade desde a sua nascente. Hoje não dá mais, porque a água está escura, criou um lodo estranho no fundo no mangue, têm o esgoto e o óleo derramado. Muitas áreas de mangue foram cortadas e queimadas por eles”, disse um dos moradores. “Muitos habitantes aceitaram as indenizações com medo de serem colocados para fora sem nada, como aconteceu em outras áreas”, complementou o líder Magno Manoel.

Além de conversar com os residentes, a equipe conheceu parte da ilha, tendo acesso a algumas casas demolidas e outras que estão desabando por falta de reparos. Verificaram ainda a saída de esgoto e óleo que está danificando o mangue e a estrada criada que impede a vazão normal do mar para o rio. Com a certificação da Fundação Palmares, eles estão pedindo ajuda a alguns entes federais, como a Defensoria Pública da União, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Ministério Público Federal.

“Viemos para conhecer mais de perto a situação e ficamos preocupados com o que presenciamos. Uma comunidade tradicional certificada, como é a Ilha de Mercês, merece proteção do Estado e reconhecimento da titularidade sobre sua terra. A DPU irá prestar assistência a essa população, a fim de que seus direitos sejam assegurados e cessem as violências que eles vêm sofrendo”, afirmou o defensor Geraldo Vilar.


http://www.dpu.def.br/noticias-pernambuco/157-noticias-pe-slideshow/37631-equipe-da-dpu-no-recife-visita-comunidade-quilombola-ilha-de-merces