quinta-feira, 18 de maio de 2017

Proteção a grupos vulneráveis é discutida na DPU no Recife


A Defensoria Pública da União (DPU) no Recife promoveu, nesta quarta-feira (17), um minicurso intitulado Proteção a grupos vulneráveis: padrões de respeito no seu atendimento, afirmação de direitos e prevenção à revitimização, na sede da DPU no Recife, no bairro da Boa Vista, região central da capital.

O curso teve como objetivo a discussão conjunta das demandas apresentadas por diferentes grupos vulneráveis (mulheres, portadores de necessidades especiais, LGBT, negros, dentre outros), sobre as dificuldades de afirmação de seus direitos e estigmatização de suas condições, particularmente na interlocução com instituições de segurança pública.

O defensor público federal Pedro de Paula Lopes Almeida, chefe da DPU no Recife, agradeceu a presença de todos no evento que faz parte da semana de comemoração ao Dia da Defensoria e disse que o objetivo principal do encontro era dialogar com as instituições sobre quais seriam as demandas para a proteção de grupos vulneráveis.

Almeida fez uma apresentação sobre o tema central da discussão: Proteção a grupos vulneráveis: padrões de respeito no seu atendimento, afirmação de direitos e prevenção à revitimização. “A revitimização é a hipótese que a vítima de determinado delito é colocada também como responsável pelo fato. E também, em casos em que se questiona a pessoa para, por exemplo, colher provas, e isso faz com que aquela pessoa reviva o trauma dos fatos do passado”, explicou o defensor.

Ele falou sobre características e classificações dos Direitos Humanos e sobre o Sistema Interamericano de Direitos Humanos. E também sobre a questão dos conflitos armados contemporâneos com o papel da polícia e o caso, recém julgado pela Corte Interamericana de Diretos Humanos, Cosme Rosa Genovena e outros (Favela Nova Brasília) vs Brasil, que tratou de denúncia de violência policial no Rio de Janeiro e teve atuação da DPU.

A delegada assessora do Departamento de Polícia da Mulher da Polícia Civil de Pernambuco, Julieta Japiassú, falou sobre o atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica de acordo com a Lei Maria da Penha (Lei 11340/06). A delegada tratou em uma análise comportamental das diferenças entre homens e mulheres, sobre os mitos da violência domestica quanto ao sentimento do agressor, a facilidade de identificação das vítimas, ao contexto familiar e a classe social das famílias atingidas. “A violência doméstica está presente em qualquer classe social. Se conhecem alguém que é vítima estimulem a denunciar o agressor, inclusive para a determinação de medidas protetivas”, alertou Japiassú.

A capitã da Polícia Militar de Pernambuco, Lúcia Helena, coordenadora do GT Racismo, tratou do atendimento da polícia frente a grupos vulneráveis. Ele iniciou explicando programas preventivos da instituição, como de atendimento aos casos da Lei Maria da Penha e de racismo institucional. E ressaltou situações de violência na rotina policial na perspectiva dos policias militares. “Muitos criticam a atuação da Polícia Militar. A opinião pública é contraria aos policiais. Mas não atirem pedra na polícia de longe, cheguem perto para ver a nossa realidade, pediu a capitã.

O coordenador de programas da ONG Etapas (Equipe Técnica de Assessoria e Pesquisa e Ação Social), Pedro Ribeiro, falou do trabalho da instituição que visa dar visibilidade para as demandas da periferia. Ele contou que a periferia vê os órgãos de segurança pública não tem a confiança da população e chamou a atenção para a questão da mulher negra na cidade de recife. “Nos últimos 5 anos, temos visto um crescimento encarceramento de mulheres, principalmente negras, por envolvimento com o tráfico de drogas”, afirmou.

Os pesquisadores do Grupo Asa Branca de Criminologia, Vitória Dinú e Maurilo Sobral, falaram, respectivamente, sobre os reflexos da atuação policial nas ações de apuração de atos infracionais e o papel da Defensoria diante dos adolescentes em conflito com a lei e sobre a atuação da polícia nesses casos.

Sobral apontou o adolescente negro com o ponto central de um perigoso processo de suspeição em que a imagem do negro é socialmente negativa, em sua pesquisa dos registros atos infracionais, a maioria eram jovens entre 16 a 17 anos e negra. Já Dinú relatou os casos que acompanhou nas audiências de julgamento dos atos infracionais e analisou a atuação policial e do sistema justiça criminal nos procedimentos dos juízes, promotores de juízes e defensores públicos. “A gente vive, pelo contexto de violência, uma vontade de punir e isso é muito perigoso, com graves violações aos direitos”, contou a pesquisadora.