sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Jornal do Commércio - 16/08/2013

Cidades

Do cativeiro para a morte

MAUS-TRATOS Papagaio apreendido pelo Ibama morreu de infecção, antes de ser resgatado pela dona que conseguiu apoio judicial

Vendedora ficou deprimida quando IBAMA levou animal

Avendedora Gedália Valentin Ferreira, 53 anos, teve uma grande decepção quando foi buscar, ontem, na sede do IBAMA, o papagaio de estimação, “Meu Lourinho”. Ao chegar ao órgão, em Casa Forte, Zona Norte do Recife, soube que o animal havia morrido no dia 10 de julho. “Vou procurar os meus direitos, deviam ter me avisado quando o papagaio morreu. Tinham meu telefone e endereço, isso não é justo”, disse a vendedora. Gedália ganhou na Justiça o direito de ficar com o animal. A vendedora criava o papagaio há oito anos. A ave chegou em sua casa através de um primo, morador do bairro de Pau Ferro, também na Zona Norte da capital. Ele viu o bicho cair de uma árvore e perguntou se Gedália queria ficar com o animal. Após acusações de maus-tratos (o papagaio estava com as asas cortadas e desnutrido), os fiscais do IBAMA apreenderam o bicho e o levaram para a sede do órgão. Inconformada, a vendedora entrou com ação na Justiça para terodireito de criaropapagaio. E ganhou a causa, na primeira etapa do processo. Semana passada, o juiz federal da 2ª Vara Federal Francisco Alves dos Santos Júnior concedeu a guarda provisória da ave à mulher. O processo seria julgado em seis meses. Em sua defesa, Gedália alegou que o papagaio era sua única companhia. “Ela disse ter ficado muito triste após a saída do papagaio e teve até depressão. Chegou a apresentar receitas de remédios e laudos médicos que comprovam a doença”, informou o magistrado. Durante o período em que a ave esteve no IBAMA, Gedália fazia visitas constantes. “Ele sempre ficava alegre quando me via. Os funcionários disseram que o papagaio me chamava o tempo todo. Só eu conseguia chegar perto dele”, relatou. “Criava ele com muito amor e carinho, não queria que fugisse, por isso cortei as asinhas. Ninguém quer perder aquilo que ama tanto.” Opapagaio morreu de infecção bacteriana na área do tórax, próximo ao pulmão e ao coração. Segundo veterinários do IBAMA, a infecção foi provocada pelo mau estado nutricional em que se encontrava quando foi apreendido. Na IBAMA, existem 474 animais recolhidos, entregues voluntariamente ou apreendidos em operações. Deste total, 355 são aves, 97 mamíferos e 22 répteis. Nenhum representante do órgão quis falar sobre o assunto, mas a assessoria de imprensa informou que os abrigos estão superlotados. A capacidade das jaulas e viveiros não foi informada. Os bichos ficam no IBAMA por tempo indeterminado, até se recuperarem da situação em que chegaram e terem condições de voltar à natureza. A soltura dos animais é feita em uma reserva particular, em local não revelado, para evitar a ação de pessoas que queiram capturá-los para fins comerciais.