Dois representantes da Defensoria Pública da União
(DPU) no Recife visitaram, no dia 30 de março, o Quilombo Onze Negras,
localizado no Cabo de Santo Agostinho, município ao sul da Região Metropolitana
do Recife. Com o objetivo de conhecer a comunidade, seus problemas e
necessidades, a ideia da visita surgiu após a participação de representantes do
quilombo no seminário DPU e Movimentos Sociais, no início de março.
A defensora pública federal chefe-substituta da DPU no
Recife, Tarcila Maia Lopes, e o servidor Rafael Filipe foram recebidos na
comunidade por uma das onze negras, como sugere o nome do quilombo, Maria José
de Fátima da Silva Barros, líder comunitária, coordenadora da Comissão de
Quilombos de Pernambuco e presidenta da Associação dos Moradores, Pequenos
Produtores Rurais e Quilombola Onze Negras do Engenho Trapiche (AMPRUQUION). Na
ocasião, também estavam presentes Maria do Céu, chefe da representação do
Ministério da Cultura no Nordeste, e Maria das Dores Leal, do projeto Quilombos
de Pernambuco.
Os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer a
creche e o centro cultural, bem como andar pelas ruas do quilombo e entender a
extensão da comunidade, que tem cerca de 10 hectares divididos em três lotes.
Após a caminhada, o grupo se reuniu com outras integrantes dos Onze Negras e
convidados, entre eles Maria Antônia dos Santos, da comunidade Poço Dantas em
Inajá, e Geisiane Paula Pacheco da Silva, do Engenho Siqueira em Rio Formoso.
Com três das onze negras representantes do quilombo
presentes - Maria José de Fátima (58), Adelina Ramos (71) e Maria José de
Santana (61), os visitantes puderam escutar as histórias de construção e
solidificação da comunidade. ”Se nós mulheres não tivéssemos nos unido e
corrido atrás, estaríamos como antes, sem nada. No começo muitos homens não
aceitavam nem a liderança feminina na comunidade nem se diziam de quilombo, mas
hoje eles abraçam a causa”, destacou Maria José de Fátima.
A defensora Tarcila Maia explicou a atuação da
Defensoria Pública da União e como o órgão vem atuando em favor das comunidades
tradicionais, buscando o bem-estar e o progresso social e econômico dessas
comunidades. “Temos nos preocupado muito com um olhar coletivo para a
sociedade. Reconhecendo alguns setores mais vulneráveis, criamos grupos de
trabalho voltados para áreas específicas, entre eles os quilombos. Nossa visita
hoje é mais com a intenção de conhecer a comunidade e pensar em possíveis
demandas coletivas” , afirmou a defensora.
Quilombo Onze Negras
A comunidade Onze Negras fica situada a 35 quilômetros
do Recife, no município de Cabo de Santo Agostinho, nas terras do Engenho
Trapiche. O início aconteceu em meados de 1940, com a formação de uma pequena
comunidade composta por negros remanescentes da escravidão no munícipio. Nessa
mesma época, famílias migravam para o Cabo com a intenção de trabalhar nas
usinas de cana-de-açúcar. Três grandes famílias foram originadas e seguiram
morando no Engenho Trapiche, comprando as terras posteriormente e iniciando as
construções de algumas casas. Ao longo dos anos, a comunidade recebeu vários
nomes: Burrama, Pista Preta e, por fim, Onze Negras. Do grupo pioneiro que
fundou a associação de moradores, quatro mulheres já faleceram, sendo
substituídas por outras, sempre com a intenção de manter o trabalho coletivo em
prol da comunidade. Estima-se que, atualmente, cerca de 480 famílias vivam no
local.