quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

REVISTA VIA LEGAL (Ano V n. XIV)

Oportunidade imperdível



Adriana Dutra – Brasília (DF)
Para quem está em busca de qualificação no exterior, mas não tem condições financeiras de arcar com os custos desse investimento, o Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal, é a opção ideal. Mas os candidatos devem ficar atentos aos seus direitos na hora de participar do processo seletivo
Mesmo com o bom momento econômico vivido pelo Brasil, estudar no exterior ainda é o projeto de vida de muitos brasileiros, em especial dos mais jovens. Mas a realização desse sonho esbarra, na maioria das vezes, na falta de oportunidade e de renda. Uma das alternativas para quem está em busca dequalificação no exterior, mas não teria condições financeiras de arcar com os custos desse investimento,é o Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal, que oferece bolsas de estudo com esse objetivo. O problema é quando a burocracia interfere e alguns desses estudantes precisam recorrer à Justiça.
Foi o que aconteceu com o aluno de Jornalismo Rodrigo Adamski. Ele sonha em passar pela experiência de ficar um tempo fora do Brasil para enriquecer seu futuro profissional. “Meu curso está voltado à cultura, ao conhecimento geral, não está voltado somente ao lugar onde tu vives. A importância do intercâmbio está nisso, de tu conheceres outros lugares, outras formas de ensinar, atuações na sua área”, avaliou ele.
Esse sonho começou a se tornar realidade depois que Rodrigo conheceu o Ciência sem Fronteiras. Ele se inscreveu para estudar na Universidade de Bolonha, na Itália, e foi aceito no processo seletivo: estava tudo certo, até que o governo alterou a decisão. “Depois de três meses, de todo o processo, da esperança, de fazer prova de italiano, de estudar coisas que eu não tinha esperado estudar até então, chegou um e-mail de indeferimento, por um motivo relacionado à própria homologação, que era o meu curso”, conta o estudante.
O argumento usado para indeferir o pedido foi que o curso de Comunicação Social/ Jornalismo não faria parte das áreas prioritárias do Programa. O candidato decidiu levar o caso à Justiça. “Eu quis entrar com um processo não apenas para ir para a Itália, mas para ter acesso àquilo que era meu por direito”, afirma o estudante. Ele procurou a Defensoria Pública da União, que contestou a posição do Governo Federal. “Alegamos que, segundo o histórico escolar do Rodrigo, as matérias cursadas por ele eram inerentes à indústria criativa, que não poderia ser desvinculada do curso de Comunicação Social”, sustentou a Defensora Pública Ana Erhardt.
A Justiça Federal em Pernambuco concordou com a tese da Defensoria e garantiu a candidatura do estudante. Segundo o juiz federal Ubiratan de Couto Maurício, qualquer indeferimento deve ser baseado no que está previsto no edital que, no caso do Ciência sem Fronteiras, definiu as áreas e temas prioritários para os alunos realizarem disciplinas ou estágio na Itália. “O próprio edital não se pautou apenas pela escolha prévia e rígida de cursos universitários, preferindo contemplar campos de estudo, sem atrelá-los a este ou aquele curso, ao contrário, posicionando-se em prol da amplitude do conhecimento científico”, frisou na decisão.
Na visão do magistrado, quando a Administração alegou que o curso do autor não estaria enquadrado nas áreas prioritárias do programa, contradisse o edital que, dentre as áreas de estudo, elenca: arquitetura, design, software, jogos de computadores, publicação eletrônica, publicidade, artes, filme, vídeo, fotografia, música e artes performáticas, televisão, rádio e editoração. “Ora, alguns desses campos de estudo refletem o perfil curricular do curso do autor. O histórico acadêmico do aluno inclui as disciplinas de tecnologias audiovisuais, técnicas digitais, radiojornalismo, design, cinema, telejornalismo, fotojornalismo, algumas delas já integralmente cursadas pelo estudante. Assim, como não admitir o curso do autor incluído em área prioritária, se se desdobra em disciplinas cujos estudos foram contemplados no edital?”, questionou o magistrado.
Com a decisão, a candidatura de Rodrigo foi restabelecida e ele pôde participar de todas as etapas do Programa, em igualdade de condições com os demais candidatos. Agora, Rodrigo só pensa em arrumar as malas e seguir para a Universidade de Bolonha. Destino final: o conhecimento.

Diferencial
Do ponto de vista profissional, a experiência fora do Brasil torna o intercambista muito cobiçado no mercado. Por isso, Jéssica Cantieri Fagundes, que cursa Desenho Industrial na Universidade de Brasília, após fazer um pequeno intercâmbio nos EUA, decidiu que iria procurar uma nova oportunidade. “Acredito que terão vantagens aquelas pessoas que saibam falar mais línguas, que tenham a mente aberta, facilidade de se portar adequadamente diante de pessoas de várias culturas diferentes e que tenham noção do universo que existe fora da sua própria cidade”, avalia a estudante, que vê a experiência fora do País como um elemento de formação do caráter. “Hoje em dia não há mais essa distinção entre a pessoa que você é no trabalho e a pessoa que você é na vida. Seu trabalho e sua vida estão cada vez mais ligados e as melhorias que você faz em um refletem no outro. Viajar, conhecer novos lugares, enfrentar desafios nunca antes imaginados, só me farão crescer como pessoa e isso influencia diretamente no tipo de profissional que eu vou ser”, opina.
Jéssica chegou a pesquisar várias possibilidades, sem sucesso. “Ficar em um país diferente não é algo fácil, mesmo que eu tenha a sorte de ter uma família que me apoia e que faria tudo para me manter da melhor forma possível nesse período. Eu precisava avaliar as condições da bolsa, as ajudas financeiras, o alojamento, a cidade em que iria ficar, custo de vida e todo o resto”, recorda. Foi quando uma amiga lhe apresentou o programa do Governo Federal. “Quando eu conheci o Ciência sem Fronteiras, tive a esperança de que daria certo de verdade. A ajuda que eles dão é muito maior do que a expectativa e torna o sonho do intercâmbio possível para todo mundo que só precisa desse incentivo monetário, porque já tem vontade de sobra”, conta.
Além da ajuda financeira, outros aspectos chamaram sua atenção. “Achei o programa fantástico porque, para muitos países que estavam disponíveis ali, é dificílimo conseguir uma simples bolsa, o que dirá uma bolsa espetacular dessas. Eu me recusei a deixar passar”, afirma. A opinião de Jéssica sobre o programa é acompanhada pelo professor emérito da UnB, Isaac Roitman. “O Ciência sem Fronteiras é uma oportunidade única para estudantes brasileiros, pois as universidades com as quais o programa trabalha são instituições de excelência no exterior. Além de terem a oportunidade de conhecer novas culturas e sociedades”, resume.

De malas quase prontas
No caso de Jéssica, com a decisão tomada, faltava enfrentar o processo seletivo, que ela considerou muito simples. O único complicador citado por ela foi a falta de organização do Programa. “Teve muita divergência de informações e dúvidas nunca sanadas. Mas entendo que as proporções são gigantes e é realmente difícil coordenar tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo pela primeira vez. Espero que nas próximas chamadas o processo fique mais organizado, mais claro e que os prazos sejam cumpridos”, torce.
O importante é que, para Jéssica, o resultado foi o esperado. “Ainda era madrugada quando o resultado positivo foi divulgado e eu fiquei tão feliz que tive que ir acordar meus pais para que eles comemorassem comigo. Tiveram um pouco de lágrimas, mas só de alegria, todo mundo aqui em casa ficou triste porque eu ia ficar muito tempo longe, mas extremamente feliz por eu ter conseguido”, relembra.
Jéssica já está na Coreia do Sul, onde vai ficar um ano, fazendo um curso de Uso de Novas Tecnologias para o Aprendizado, na Faculdade Hanyang, em Seul. “Ainda não foi possível escolher as matérias que irei cursar, mas pretendo me dedicar ao estudo da função do design como intermediador entre a tecnologia e o usuário, no processo de aprendizado”, explica.
Ela conta que escolheu a Coreia porque um de seus requisitos era selecionar um país em cuja língua ela ainda não fosse fluente. “Dentre as opções, a Coreia é o país que mais está crescendo e falar coreano me abrirá muitas portas, principalmente na minha área, que envolve muita tecnologia. Além disso, tenho facilidade de aprender a língua. A Coreia é um achado, será um aprendizado muito grande, que eu espero transformar em sucesso”. Jéssica explica que, já há alguns anos, se interessa pelo estilo de vida oriental e que, por isso, procura ter contato com a cultura. “A Coreia do Sul tem muita coisa linda para mostrar e que pra mim vai ser completamente novo, e eu acho que não teria um país onde eu pudesse aprender e crescer mais do que na Coreia”, completa.
A estudante acredita que sua maior dificuldade será a convivência com as pessoas. “Não tenho problema em fazer amigos, mas estou com medo de que os coreanos sejam muito fechados. E como quero muito fazer amigos nativos do país, ficarei triste se não conseguir”. Segundo ela, outra dificuldade será a distância da família. “Embora a tecnologia esteja a nosso favor, posso dizer com certeza que vou sentir falta de casa em vários momentos”.
Mas nem a perspectiva dessas dificuldades a assustam ou a fizeram pensar em desistir. “Isso nunca me passou pela cabeça, não pensei em desistir nenhuma vez, isso nunca foi uma opção pra mim. Não vejo motivos para desistir depois que já cheguei tão longe. Aceito o desafio sorrindo quando se trata de viajar, já escutei algumas pessoas falando que eu deveria ter medo e que eu era corajosa, mas eu não estou vendo perigo nenhum nessa viagem. O país é super seguro, tudo está bem arranjado e vou ter muito suporte lá”, conclui.

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